Ele
se foi com as gotas da chuva, sumiu cantando, evaporou. Encantou a Morte,
seduziu a Vida, abraçou o Desespero, levou consigo o Destino e me deixou com um
aperto de mão, lembro-me do seu intrigante sorriso como se fosse um raio de luz
aquecendo o meu coração. Era uma chama que ardia e derretia a neve ao redor do
meu corpo gelado. A chama se apagou no momento em que ele soltou da minha mão e
saiu de cena, restou-me a dolorosa lembrança do seu sorriso caloroso, daqueles
lindos dentes brancos e levemente tortos, daqueles olhos que inundavam minha
mente de pensamentos sobre o Oceano e a delicadeza do azul. A saudade
esfaqueou-me no peito, senti a dor antes de ver a porta se fechar por completo.
Quando ele partiu, um pedaço do meu coração também seguiu junto com ele, e eu
fiquei no mesmo lugar com o coração incompleto e sentindo-me completamente
quebrada por dentro.
Vale, insanus puer, ave.
Ele
se foi com o sol e a luz do raiar de cada dia, levou consigo as melodias que
faziam a alegria criar raízes dentro de mim, ele simplesmente iluminava o que
agora é escuridão e lamúria. A lembrança não pode ser esquecida, a dolorosa
lembrança de um adeus indesejado nunca poderá ser apagada de minhas
recordações, a faca ainda corta o que deveria permanecer inalterado, o coração
continua gemendo a cada batida que escuto em minha porta. E falar com a Morte
não restaura as emoções do ato de sentir o calor de seu sorriso, a dor de ter
beijado o ar que ele respirava é pior do que cair no abismo sem fundo de um
pesadelo e não conseguir acordar antes de atingir o solo. O calor deve ter ido
embora junto com ele, aquele calor que me aquecia nas noites frias, agora a
neve voltou a se acumular ao redor do meu corpo.
Vale, insanus puer, ave.
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