terça-feira, 13 de agosto de 2013

Vale



Ele se foi com as gotas da chuva, sumiu cantando, evaporou. Encantou a Morte, seduziu a Vida, abraçou o Desespero, levou consigo o Destino e me deixou com um aperto de mão, lembro-me do seu intrigante sorriso como se fosse um raio de luz aquecendo o meu coração. Era uma chama que ardia e derretia a neve ao redor do meu corpo gelado. A chama se apagou no momento em que ele soltou da minha mão e saiu de cena, restou-me a dolorosa lembrança do seu sorriso caloroso, daqueles lindos dentes brancos e levemente tortos, daqueles olhos que inundavam minha mente de pensamentos sobre o Oceano e a delicadeza do azul. A saudade esfaqueou-me no peito, senti a dor antes de ver a porta se fechar por completo. Quando ele partiu, um pedaço do meu coração também seguiu junto com ele, e eu fiquei no mesmo lugar com o coração incompleto e sentindo-me completamente quebrada por dentro.

Vale, insanus puer, ave.

Ele se foi com o sol e a luz do raiar de cada dia, levou consigo as melodias que faziam a alegria criar raízes dentro de mim, ele simplesmente iluminava o que agora é escuridão e lamúria. A lembrança não pode ser esquecida, a dolorosa lembrança de um adeus indesejado nunca poderá ser apagada de minhas recordações, a faca ainda corta o que deveria permanecer inalterado, o coração continua gemendo a cada batida que escuto em minha porta. E falar com a Morte não restaura as emoções do ato de sentir o calor de seu sorriso, a dor de ter beijado o ar que ele respirava é pior do que cair no abismo sem fundo de um pesadelo e não conseguir acordar antes de atingir o solo. O calor deve ter ido embora junto com ele, aquele calor que me aquecia nas noites frias, agora a neve voltou a se acumular ao redor do meu corpo.

Vale, insanus puer, ave.